via binarioEstamos em obras. A frase que resume o Rio de Janeiro de 2015 tem reflexos em toda a região metropolitana. Levantamento realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) sobre mobilidade urbana já colocou a cidade como campeã entre as em que o trabalhador mais perde tempo para ir e voltar do seu emprego. Com a multiplicação das intervenções, o quadro só piorou.

A derrubada da Perimetral e a implantação do VLT e do BRT levaram à obstrução de vias, desvio de trânsito, tornando a rotina de quem chega e sai do Rio um verdadeiro caos. Situação que afeta também a todos os municípios do entorno. Quem mora em Niterói, São Gonçalo ou nas cidades da Baixada Fluminense sabe bem disso. Mas será que terminadas as obras o tão falado ‘legado olímpico’ vai, de fato, fazer da região metropolitana do Rio um espaço transitável?

Especialistas na área de transportes acreditam que melhorias serão sentidas com o fim das obras. Para os que utilizarão, por exemplo, a Transbrasil, a Transolimpica ou a Linha 4 do Metrô, a vida ficará mais fácil. O tempo de viagem será reduzido. Mas a dúvida maior é em relação à qualidade do serviço a ser prestado, especialmente na hora do rush, uma preocupação do engenheiro Luiz Cosenza, integrante do Fórum de Mobilidade Urbana. “Hoje a Transcarioca, a Transoeste e o Metrô já estão operando além de sua capacidade nas horas de maior demanda transportando as pessoas sem qualquer conforto”, alerta.

Para Luiz Cosenza, seria necessário retomar investimentos em mobilidade urbana que estão sendo esquecidos pelo poder público e que atenderiam a mais usuários. Um exemplo é o de São Gonçalo, o município com maior população do estado e que enfrenta situação caótica nos transportes.  “A prioridade deveria ser a construção da Linha 3 do Metrô ligando São Gonçalo à Carioca, trecho este que tem uma previsão de demanda quatro vezes maior do que a Linha 4, que liga a Barra da Tijuca à estação General Osório, em Ipanema, e que está sendo construída a um custo em torno de oito bilhões de reais. Não que a linha 4 não seja importante, mas a prioridade sempre deveria ser dada ao atendimento à maior quantidade de pessoas”, avalia.

A medida beneficiaria também os moradores de Niterói e reduziria o caos na Ponte Rio-Niterói e nas Barcas. Em relação às Barcas, a ligação de São Gonçalo à Praça XV também é apontada como fundamental, além de investimentos na melhoria dos serviços.

Acidentes e panes nas embarcações fazem parte do dia a dia dos usuários, motivo de estresse, desgaste e, para alguns, até a perda do seu posto de trabalho devido aos atrasos constantes.

Para quem utiliza os trens, o quadro não é mais animador. Ramais com tráfego interrompido, defeitos nas composições e descarrilamento acontecem constantemente. Em meio a tudo isso, situações inacreditáveis como a que aconteceu no fim do mês de julho. Um vendedor ambulante foi atropelado na Estação de Madureira e a Supervia autorizou que outro trem passasse sobre o corpo para não interromper a circulação no ramal.