D Ana_AlemãoDona Ana Leite tem o olhar cheio de vida e é daquelas pessoas boas de conversa. Com riqueza de detalhes, gosta de contar sua longa história de trabalho, iniciada aos 13 anos, e sua vida na Grota, no Complexo do Alemão. Desde criança, mora na comunidade.
E é quando fala da casa, onde vive há 46 anos com a mãe hoje com 87, que desabafa. Durante cinco anos lutou para acabar com a inundação que surgiu de repente. A água passou a correr dia e noite, como um rio, dentro de casa, inundando a sala. Sem descobrir a origem da fonte que teimou em brotar da terra exatamente no seu cantinho, dona Ana foi à luta, em busca de ajuda. “Eu chamei a Defesa Civil, engenheiros, enviei carta para o Governador e nada”, relembra.
Foi com o apoio de amigos da comunidade que a sua sorte começou a mudar. Um grupo se reuniu para ajudar. Logo, os amigos descobriram que o vazamento tinha origem na casa de um vizinho. A obra começou com um movimento de solidariedade. “Nós conscientizamos o vizinho sobre a importância de resolver o vazamento e iniciamos a reconstrução da casa com apoio de muita gente. Houve até quem fizesse rifa entre amigos para conseguir colaborar na compra do material e no pagamento do pedreiro” conta François Camargo, vice-presidente da Câmara Comunitária da região.
As colaborações foram muitas. Rita Couto, do grupo de artesanato, ajudou a organizar os amigos. Como uma lista de casamento, a de materiais de construção ficou disponível na loja da comunidade para quem quisesse contribuir. Foram 25 pessoas na corrente de solidariedade.
A obra ainda não está pronta. Falta comprar a porta de alumínio, sonho das moradoras e que depende de novos doadores. Para François, o caso de dona Ana é emblemático. Pode ajudar a recuperar uma tradição da comunidade, a de mutirões para resolver problemas para os quais o poder público não apresenta solução. “Esse era um hábito que foi perdido. Como as comunidades cresceram muito e a violência também, o espírito de solidariedade foi se perdendo, mas podemos recuperá-lo”, avalia.
Dona Ana sorri ao pensar que poderá morar num lugar que mereça ser chamado de sua casa. “Vai mudar tudo pra mim. Vou ter um lugar digno para viver”, fala com esperança e um largo sorriso, novamente, estampado no rosto.
Nota: quem quiser colaborar com a obra pode entrar em contato com Rita Couto: 99424 8828.
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